sexta-feira, 17 de abril de 2015

5º mandamento do empresário prestador de serviços

5 - A empresa é lugar para fazer dinheiro, e não caridade
Sei que esse mandamento parece óbvio, mas nada é tão óbvio assim quando envolve sustento de outras pessoas e suas respectivas famílias.

Trabalhei por um tempo numa empresa de consultoria e o que mais me chamou a atenção nesse período foi uma funcionária chamada Rose (nome fictício).

A existência da Rose não me chamou a atenção positivamente, muito pelo contrário: ela custava aproximadamente R$3.5k mensais para a empresa - que nem tinha uma demanda contábil tão grande assim -, enquanto eu conhecia ao menos três excelentes empresas de contabilidade que fariam o mesmo serviço que ela por 1/3 desse valor!

Mas enfim, eu era apenas um humilde jovem em seu primeiro emprego, então não queria "chegar chegando" na empresa que tinha acabado de me contratar, muito menos apontar o dedo pros outros chamando de inútil e sugerindo a terceirização da contabilidade.

Optei por ficar na minha fazendo meu trabalho e lidando com o fato de que próximo a mim ficava aquele passivo de 3.5k/mês demorando três horas pra emitir uma nota fiscal eletrônica e perdendo tardes inteiras em fila de banco por não saber pagar um DARF pela internet.

Vamos para a parte em que a história toma contornos bizarros:

Numa não tão bela manhã, eis que Rose entra na nossa sala completamente pelada,  e vai andando em silêncio em direção à janela.

A reação do Madruga que virou pra dar bom dia e se deparou com a Rose peladona
É sério, meus caros, a moça só não se jogou janela abaixo pois foi segurada pelo auxiliar-administrativo que dividia a sala conosco, que tratou de acalmá-la enquanto ela chorava e agonizava feito um suíno sendo abatido.

Mais tarde, conversando com o dono da empresa, ele me explicou que a Rose toma remédio controlado e vez ou outra surta, geralmente porque deixou de tomar o remédio ou por ter bebido algo alcoólico que anulou o efeito da medicação. Fiquei sabendo que a tentativa de suicídio sensual que eu tinha testemunhado naquele dia poderia ser considerado um surto "light" se comparado ao que ela já aprontou quando saiu do controle antes.

Perguntei ao dono da empresa se não era melhor mandá-la embora ou encostá-la no auxílio-doença. Aproveitei para mencionar que terceirizar a contabilidade era muito mais fácil e econômico, coisa que ele já sabia. Bom, eis o que ele respondeu:

"Madruga, conheço a Rose desde a década de 80. Ela é uma pessoa muito boa, mas muito boa mesmo. Você viu que ela tem problema, e esse tipo de problema só piora se ela não tiver emprego e passar o dia todo ociosa". 

Foi aí que entendi tudo: a empresa tolerava um passivo de 3.5k mensais pelo simples fato de que o dono temia pela vida dela caso ela ficasse desempregada.

Se estivéssemos falando da porra da PwC até daria pra levar, mas se tratava de uma empresa com uma margem de lucro não tão alta assim, de modo que esses R$ 3.5k pesavam no orçamento.

Do ponto de vista humanístico, manter a Rose era uma atitude nobre, mas do ponto de vista empresarial era algo bastante estúpido.

Com o tempo eu detectei outras atitudes estúpidas, tais como uma excessiva tolerância com clientes inadimplentes (que alegam "dificuldades financeiras" mas andam por aí de corolla novo), e também uma relutância em demitir uma secretária cuja falta de cortesia era constantemente alvo de reclamação dos clientes, mas a secretária não podia ser demitida pois "ela usava o salário dela pra pagar a faculdade que ela está cursando".

Eis a questão: você monta uma empresa pra bancar o Jesus e se sacrificar pelos outros ou pra ganhar dinheiro? Se a resposta for a primeira, volte ao início do post e leia o mandamento em negrito.

Calma lá, Madruga, há casos e casos!

Sim, concordo, há casos e casos. Por exemplo, não faz sentido mandar um bom funcionário embora se o problema pessoal dele for pontual. Consigo pensar em uma série de exceções ao mandamento que citei no início do post, mas são exceções, a regra é e deve sempre ser: empresa é lugar para fazer dinheiro, e não caridade.

Poxa, mas sempre achei lindo quando uma empresa tem responsabilidade social.

Se você tem mais de cinco anos sabe muito bem que a "responsabilidade social" das empresas, por mais que realmente beneficie pessoas, é mais uma campanha de marketing do que qualquer outra coisa. É pela total ausência do imperativo categórico kantiano que as empresas fazem questão de soltar aos quatro ventos os seus "esforços para melhorar o mundo".

Por hoje é só. Aquele abraço!

4 comentários:

  1. Caramba, seu madruga muito bom o seu blog...
    Comecei a ler, e li todos os seus posts...muita coisa boa mesmo, além de uma excelente narrativa.
    Temos muita coisa em comum, no jeito de pensar.
    O lance de curtir ficar sozinho, de viver low profile, de gostar de coisas simples, de gostar de empreender, etc...

    Muito legal mesmo, parabéns...

    Grande abraço

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  2. Fala, catarrento!

    Fico muito feliz que tenha gostado! Seu blog é um dos primeiros blogs de finanças que comecei a acompanhar e um dos que me motivou a criar o meu.

    Abraço!

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  3. KKKkk que história bizarra meu Caro Madruga.
    No final das contas toda a culpa é do dono da empresa que quer sustentar as loucuras da Rose.
    Sou cruel ao apoiar a saída dela? Ok e até quando vai continuar a situação da Rose na empresa?
    Eu sei que é uma questão bem delicada mas se pelo menos ela produzisse na empresa aí eu poderia até concordar com o chefe.

    Excelente Post Seu Madruga. Meus parabéns.
    Sucesso,
    S&P

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  4. acabei de ler essa sua série dos 5 mandamentos do empresário, ri muito com a parte da Rose pelada. essas dicas serão muito úteis se eu vier a criar um negócio algum dia

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